ONDE O HORIZONTE SE MOVE
de Gustavo Ciríaco
Em Guimarães 2012 , o horizonte movia-se
pelas pernas de 20 crianças que apareciam a correr de um vasto campo baldio com
uma montanha ao longe. Elas vinham longe, elas iam para longe. Duas gêmeas de 5
anos espelhavam-se, um espelho fazia do verde o ar, um carro atravessava-se a
tocar José Mário Branco, mulheres brincavam camufladas às escondidas
acompanhadas por um cão saltitante nos campos de felicidade. O fim era o
depois, "o depois do adeus" que se afastava de nós, para depois se
substituír numa aproximação, numa sublimação de uma voz que está perto e se
entrega.
No London 2012
Festival, o horizonte começava num imenso terraço sob os voos altos
e velozes dos aviões que raspavam ali tão perto, e lado a lado a uma muita
ocupada linha férrea. Ao longe, no horizonte estava tudo o que a retina pode
guardar da linha do céu de Londres, e ali por baixo daquele terraço, antes do
horizonte azul, a rua de um bairro. O público era mirone de uma hora na vida da
rua de um bairro em Londres vizinha de uma enorme fábrica de biscoitos. O
quotidiano confundia-se, encontrava-se, e era apanhado na rede fictícia do
horizonte. O perto tornava-se mais perto, o homem de camisa rosa que passava as
tardes sentado à porta tornava-se personagem, um bulldog virava personagem e os
edifícios mais marcantes da cidade viravam pessoas e apareciam no bairro para
fazer uma coreografia de grupo. A ficção intervia no quotidiano, e baralhava as
hierarquias do comum e do extraordinário. A cidade transformava-se num
verdadeiro terreno de encontro de tempos diferentes: daqueles que passam a vida
a correr de um lado para o outro na História da vida numa cidade, e os outros,
os que correm para dentro de uma história ou de uma miragem de um dia especial
qualquer.
No Festival
Panorama, o horizonte é a Barra da Tijuca, é uma cidade de carros, é
uma via rápida de passagem. O chão é uma ilha no meio do alcatrão- a Cidade das
Artes, projeto arquitectónico futurista, megalómono e repleto de recantos.Os
espectadores são levados pela mão para vasculhar o horizonte e decifrar as
figuras borradas pela distância. Contra-luzes, brilhos, samba-série-caleidoscópica,
estranhas coincidências, e uma multidão que ao levar-se, também se carrega com
alegria na incerteza dos seus dias tendo a cidade como fundo. No Rio de
Janeiro, o horizonte é aquela linha ao longe que cada um pode ler, como quando
olha para a mão para desmontar o futuro, sendo que é no PRESENTE, no aqui e no
agora, que se desembrulha mais um sublime presente.
Onde & Quando : Cidade das Artes –
Foyer Central inferior
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro
26 out e 27 out
Sábado & Domingo,
16h
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