Monday, October 21, 2013


ONDE O HORIZONTE SE MOVE
de Gustavo Ciríaco



Em Guimarães 2012 , o horizonte movia-se pelas pernas de 20 crianças que apareciam a correr de um vasto campo baldio com uma montanha ao longe. Elas vinham longe, elas iam para longe. Duas gêmeas de 5 anos espelhavam-se, um espelho fazia do verde o ar, um carro atravessava-se a tocar José Mário Branco, mulheres brincavam camufladas às escondidas acompanhadas por um cão saltitante nos campos de felicidade. O fim era o depois, "o depois do adeus" que se afastava de nós, para depois se substituír numa aproximação, numa sublimação de uma voz que está perto e se entrega.


No London 2012 Festival, o horizonte começava num imenso terraço sob os voos altos e velozes dos aviões que raspavam ali tão perto, e lado a lado a uma muita ocupada linha férrea. Ao longe, no horizonte estava tudo o que a retina pode guardar da linha do céu de Londres, e ali por baixo daquele terraço, antes do horizonte azul, a rua de um bairro. O público era mirone de uma hora na vida da rua de um bairro em Londres vizinha de uma enorme fábrica de biscoitos. O quotidiano confundia-se, encontrava-se, e era apanhado na rede fictícia do horizonte. O perto tornava-se mais perto, o homem de camisa rosa que passava as tardes sentado à porta tornava-se personagem, um bulldog virava personagem e os edifícios mais marcantes da cidade viravam pessoas e apareciam no bairro para fazer uma coreografia de grupo. A ficção intervia no quotidiano, e baralhava as hierarquias do comum e do extraordinário. A cidade transformava-se num verdadeiro terreno de encontro de tempos diferentes: daqueles que passam a vida a correr de um lado para o outro na História da vida numa cidade, e os outros, os que correm para dentro de uma história ou de uma miragem de um dia especial qualquer.

No Festival Panorama, o horizonte é a Barra da Tijuca, é uma cidade de carros, é uma via rápida de passagem. O chão é uma ilha no meio do alcatrão- a Cidade das Artes, projeto arquitectónico futurista, megalómono e repleto de recantos.Os espectadores são levados pela mão para vasculhar o horizonte e decifrar as figuras borradas pela distância. Contra-luzes, brilhos, samba-série-caleidoscópica, estranhas coincidências, e uma multidão que ao levar-se, também se carrega com alegria na incerteza dos seus dias tendo a cidade como fundo. No Rio de Janeiro, o horizonte é aquela linha ao longe que cada um pode ler, como quando olha para a mão para desmontar o futuro, sendo que é no PRESENTE, no aqui e no agora, que se desembrulha mais um sublime presente.


Onde & Quando : Cidade das Artes – Foyer Central inferior
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro
26 out e 27 out
Sábado & Domingo, 16h

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Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Rio de Janeiro. I am a performing artist and art maker coming from dance. I love to dialogue with the historical, material and affective context we are immersed in any given situation. As art form, my work goes from multimedia stage conceptual work to convivial and open-air pieces. It strikes me the awareness and fictions arising from the sublime of daily situations, its materiality, the reference points that we cling to and build up our relation to reality and how meaning grows from this. contacts: gustavociriaco@gmail.com | marine@elclimamola.com

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